
Uma vez olhando para minha janela percebi que algo de estranho acontecia com a rua. Os galhos das árvores moviam-se como se estivessem sendo balançadas por uma tempestade, mas nenhum vento soprava. Corri para mais perto e espantei-me ao ver que as árvores caminhavam pelas ruas. Elas se arrancavam do chão, arrebentando as calçadas e derrubando postes. Suas raízes moviam-se como cobras deslizando e se enroscando nas raias da cidade. Laçavam e esmagavam todas as pessoas que encontravam pelo caminho. Era o fim da raça humana no planeta. Mesmo sabendo que seria consumido, fui ao encontro da amendoeira que plantei quando tinha apenas seis anos de idade. Ela ficava em frente à janela do meu quarto. Desviando de suas raízes para que não fosse devorado, pulei no balanço que meu pai havia feito, e por ele subi até o ponto mais alto. Ela parecia não me reconhecer. Contorcia-se balançando sua imensa cabeleira para que eu caísse às suas raízes. Segurando firme, eu consegui percorrer, com ela junto a centenas de outras árvores, por íngremes e distantes montanhas. Mas o passeio não durou muito tempo. Eu já não tinha mais força para lutar contra ela. Caí como uma amêndoa madura no chão. Os corpos esmagados serviram de adubo, deixando a terra cada vez mais verde. O meu fim tinha cheiro de terra. O meu recomeço tinha gosto de água. Minha voz se desfazia em vento e meus cabelos tocavam o céu.
clênio magalhães
clênio magalhães
Comentários
Arborar!?!
beijos azuis