As danças que dançamos

Aos suores deixados nos figurinos, tintas, madeiras de palcos e salas, fogo, vela, gelo, terra, folha e pedras de ruas e calçadas perguntamos:
O que acumula-se em nós?
Coisas que a gente sente e não denuncia.
Coisas que incham no nosso propósito de sermos quem somos.
Dançantes.

Coisas de dança

A dança está na tensão da dúvida. 
As coisas de dança não estão postas para afirmar.
Coisa de dança não é clara, mas ilumina.
Qualquer coisa de dança dita não será tida, se não inspirada e transmitida.
Dançar uma coisa é sujar a coisa intuída.
A dança é suja.
Sua.
Gruda.
Sigamos sujando de dança os corpos inquietos.

A bola da vida

                        A vida segue seu rumo. No peito um aperto difícil de tirar. Esta sensação que nos persegue já que o mundo parece estar sempre a nos cobrar mais e mais. Aquela bola de neve continua a rolar e a crescer. Ansiamos pelo verão e forçamos nossos pulmões para expandir o peito, respirando forte, mesmo que às vezes seja preciso um cigarro. O tempo nos fortalece e criamos coragem para enfrentar a bola. Ou viramos de costas para o futuro e somos atropelados pela bola, cavamos um buraco no chão, onde nos abaixamos e deixamos a bola definitivamente passar ou driblamos a bola fazendo caminhos curvos e criando obstáculos impedindo sua fluência em nossa direção. Enquanto escolhemos a melhor alternativa, permanecemos na corrida da bola. Trabalhando, estudando, criando, imaginando, acreditando em ideias de vida . O que é a fé senão o prazer da permanência? Se quem ganha somos nós ou a grande bola, pouco importa. Importante mesmo ainda é o movimento e suas mais variadas direções, ritmos e intensidades.