pacto

ele um homem
um homem de valores
valores reais
valores morais
valores especiais
tem um objeto
um objeto de valor
um colar
um presente do pai
um pacto
um pacto de amor
muito tempo se passou
o valor aumentou
o valor do colar
uma viagem
outro amor
outro valor
outro pacto
o filho
o herdeiro
herdeiro do colar
ela uma mulher
forte
no sentir
no ser
no ventre
uma vida
ainda pequena
às vezes se move
às vezes se vira
às vezes empurra
um menino
primeiro
segunda lua de mel
montanhas e barcos
pontes e pássaros
um noite
um jantar
um restaurante
muita comida
muita bebida
muita energia
muito sexo
muita alegria
muito amor
dia seguinte
uma tarde
um chá
num chalé
ele não está bem
comeu demais
bebeu demais
dor de barriga
dor daquelas
sobe calafrios
sorrisos amarelos
arrepia os pelos
sua a testa
dificulta a respiração
torce as tripas
trava os dentes
“onde é o banheiro?”
pergunta quase sem som
“lá em riba”
diz a dona
dona do chalé
o chalé do chá
“maldito chá!”
ele às pressas
a escada parece eterna
a privada parece trono
o alívio parece gozo
a descarga não funciona
a pressa vem à tona
despede-se da dona
riram demais
dia seguinte
um pequenique
um parque
um beijo romântico
um olhar para uma criança
uma criança e seu cão
futuro na imaginação
o nascimento de joão
uma surpresa
quem aparece?
a dona
a dona do chalé
o chalé do chá
estende-lho a mão
mostra-lhe o colar
no banheiro
ele deixou escapar
“a discarga eu num pudi cunsertá
discurpe pur num avisa
tô aqui pra recompensa
apruvetio pra falar
qui dor maió ela vai passar
quando juão se arretiá
e aos dois quisé si junta
i só vô ti perduá
purque muntio cocô
cê ainda vai limpa”.

clênio magalhães

dedicado a meu tio.

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