forçando a barra?
Tem pessoas que fazem de tudo para serem merecedoras das cadeiras ocupadas quando o ônibus está lotado. Para isso nos fitam com aquela cara de piedade, mas no fundo escondem a desfaçatez de querer nos convencer que seu cansaço é maior do que os demais. O recente caso foi no mês passado, quando eu levava um aluno do ensaio para casa. O ônibus estava abarrotado, mas eu e meu aluno estávamos sentados em cadeiras separadas, o que tornava a viagem ainda mais calma pra mim, pois eu não era vítima dos olhares de condenação por ele ter apenas onze anos. Eu não olhava no olho de nenhum passageiro em pé com medo de que ele me pedisse para sentar no meu lugar. Entre um cochilo e outro, pois o ensaio tinha sido puxado, eu ouvia as pessoas do fundo do ônibus gritarem: “...alguém que já pariu aí, por favor dá lugar a esta mãe com a criança no colo, gente! Que absurdo! Eu que já carreguei três sei muito bem o que ela está passando. Cambada de gente ruim!” A mulher que estava em frente da mãe estendeu os braços propondo segurar a criança, mas para sua infelicidade, a criança não foi com a cara dela e ela teve que ceder o lugar. De repente outros gritos vindo lá de trás. “Ela está passando mal!” Quando eu olho pra trás vejo uma mulher gorda desmaiando abrindo um buraco no meio da multidão.
“Eu disse que ela não estava bem.” “A culpa é deste motorista que fica abrindo essa porta.”
“Vai ver ela esqueceu de tomar o remédio.” “Toca pra garagem motô!”“Que garagem?! O que vão fazer com ela desmaiada na garagem? (risos) “Alguém conhece essa mulher?”
Essa última pergunta fez calar de uma só vez todo o ônibus. Ninguém conhecia a tal mulher? Naquele momento ninguém conhecia a tal mulher. Então foi a vez da senhora que estava do meu lado gritar, bem no meu ouvido:“Alguém que tem celular, por favor ligue para o SAMU http://dtr2001.saude.gov.br/samu/.” Então perguntei a ela como eu faria tal ligação? Diria ao SAMU para seguir um ônibus de número 23 na altura da Av. JK em direção ao bairro Turmalina? Seria melhor que parassem o ônibus e deixassem a mulher numa farmácia e de lá ligariam para o SAMU. O povo riu da minha colocação.
“Esse povo fica rindo da desgraça alheia.” Indagou um cidadão. Só sei que quando eu falei em parar na farmácia, a tal mulher despertou e já estava sentada, sendo abanada por dois homens como uma rainha. “A senhora está melhor?” Ela acenou a cabeça positivamente. “Quer que chame socorro médico?” Ela acenou a cabeça negativamente. Vendo o ônibus voltar ao normal, a tal mulher sentada com aquela cara corada, pensei: ela estava mesmo se sentindo mal ou somente forçou a barra?
este texto faturou o segundo lugar
na coluna da karla nascimento
causos do busu do jornal circulando
univale
http://karlanascimento.zip.net/index.html
http://cleniomagalhaes.blogspot.com
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