XI FACE - Festival de Artes Cênicas de Conselheiro Lafaiete - MG

Entevista com Geraldo Lafaiete, organizador do FACE - FESTIVAL DE ARTES CÊNICAS DE CONSELHEIRO LAFAIETE – MG que já se encontra em sua décima primeira edição, com muita garra coletiva. 

Geraldo fala um pouco sobre sua impressão sobre o festival, sobre o teatro mineiro, sobre como contribuirmos com o evento e sobre a juventude no teatro. 

Que esta entrevista sirva de estímulo para que outros articuladores culturais, produtores, empresários, diretores teatrais e artistas tenham acesso a este tipo de iniciativa que sem lei de incentivo, consegue reunir anualmente, diretores de grupos teatrais interessados na troca de experiência e reciclagem de conhecimentos. Geraldo fala da responsabilidade dos participantes em sentir responsável pela realização do festival não como um evento isolado, mas como uma resistência artística e isso me encanta desde a primeira vez que participei do festival.


Muito obrigado Geraldo pela entrevista, pelo carinho, pela confiança de sempre e pelo festival.



Para entrar em contato com os organizadores do FACE:
 CASA DO TEATRO LAFAIETE Espaço de Cultura
Para ver a lista dos vencedores:
RESULTADOS DO XI FACE 2010




SOBRE O FACE
O FACE não é uma idéia minha. Em 1976 um grupo de artistas em Belo Horizonte criaram a FETEMIG - Federação de Teatro do Estado de Minas Gerais. Este órgão tinha como objetivo apoiar e incentivar os fazedores de Teatro das Minas Gerais como um todo, com especial atenção aos grupos do interior. Funcionou muito bem por muito tempo fazendo mostras, oficinas, festivais, encontros com diretores etc. O FACE nasceu em 2000 originário de uma Mostra organizada pela FETEMIG. A Casa do Teatro assumiu após este ano, pois percebeu que com o enfraquecimento da FETEMIG se nós não assumissemos, o evento acabaria por não acontecer, como foi fato em outras cidades onde aconteciam eventos similares. Começamos pequenos, reunindo antigos grupos da Federação. Seguimos o mesmo modelo proposto anteriormente onde os grupos se deslocam para uma cidade, ficam lá durante alguns dias apresentando seus espetáculos, concorrendo entre si e fazendo oficinas onde as suas realidades são discutidas, experiências são trocadas e a prática aperfeiçoada no decorrer do tempo. Não mudamos muito nestes 10 anos e nestas 11 edições. Crescemos em número de pessoas, espetáculos, dias, oficinas... em tudo. Ganhamos experiência no realizar, fazendo com que a idéia de um festival não é mais uma assombração. Ganhamos a credibilidade da cidade que em peso apoia e espera pelo evento... o que tornaria possível atualmente não precisar mais ficar com os grupos aqui a semana toda, pois já temos platéia, porém, o foco principal do Festival ainda é o Teatro e seus fazedores. Por isso não mudamos e colocamos a população como quem recebe os resultados, as consequências do nosso trabalho.

SOBRE O TEATRO MINEIRO
Quanto ao Teatro Mineiro e de certa forma ao teatro como um todo, tenho duas impressões. A primeira é muito boa, pois percebo muitos jovens. Sinal de renovação, continuidade e futuro. Mas por outro, diante da inconsequencia, da insconstancia da juventude, também tenho a impressão da temeridade... pois esta renovação proposta pelo jovem da atualidade é muito vulnerável. Uma vulnerabilidade sujeita a tudo.... crises emocionais, afetivas, econômicas, profissionais entre outras.... Tudo pode mudar a qualquer momento... explodir como uma bomba relógio.... Hoje estamos e amanhã quem sabe. No decorrer destes 28 anos no Teatro, 16 anos na FETEMIG e 10 anos no FACE, vejo grupos sendo criados todos os dias e no mesmo dia muitos grupos sendo extintos. Vejo grupos mudando de nomes, de líderes, de formas, de cidades.... como se nada lhes fosse seguro. Vivemos uma arte por demais efêmera, não nos deixando nenhuma certeza... pelo contrário, dando-nos sempre a impressão da corda bamba. Paralelo a tudo isso, vejo os "grandes" batalhadores do teatro das décadas de 70 e 80, passando... tentando segurar pelas mãos seus grupos, seus trabalhos, suas histórias... mas que dia após dia, vejo se perderem nas mãos e na prática de adolescentes e jovens que "estão fazendo teatro" hoje. Mas sabe-se lá se "estarão fazendo teatro amanhã". E nesta dúvida, toda a nossa história e trabalho ficam sujeitos ao esquecimento, ao enfraquecimento e sobretudo à perda de identidade. É possível perceber ano a ano que os líderes que resistem, que ainda não desistiram, permanecem à frente de grupos, insistindo em fazer teatro... mas a cada ano, com pessoas novas... iniciantes... que provavelmente ficarão um ano e em breve seguirão outros caminhos.... 
E  o teatro? Vai ficar nas mãos daqueles que hoje "seguram as pontas" não mais aqui estiverem.
Vale neste momento citar: Maria Célia em Patos de Minas já não faz mais teatro. Rogério dos Santos em Belo Horizonte também está parado, Nassim Guerra, Dostoiewski do Brasil, Eustaquio Correia, Terezinha Lígia, Zé Nilton, Marcos Marinho, Alberto Emiliano, Russilvânia, Dalva Lúcia, Tatu Pena... Onde estão? O que estão fazendo?
Temos aí Homero Faria, Darci di Monaco, Nazza Amaral, Débora Soares, eu.... mas até quando?

OS OBSTÁCULOS
Para ajudar o FACE e os demais eventos o que precisamos é de uma melhor organização dos diretores. Maior liderança entre os seus liderados, para que cada evento, em Lafaiete ou em qualquer outra cidade passem a ser "importantes" pra todos nós. Responsabilidade de todos nós. Quando cada grupo assumir verdadeiramente a sua participação num evento como o FACE, certamente os Festivais deixarão de ser tão dificeis. Um passo importante para incentivar e ajudar os eventos, inclusive, para fazer com que as pessoas entendam a importância do evento, é cada grupo ou conjunto de grupos tentarem realizar um na sua cidade, por menor que seja.... aí todos aprenderão a dar valor aquilo que encontram na cidade dos outros quando vão para um festival.
Precisamos amadurecer nossos atores ou até mesmo escolher pessoas mais amadurecidas para compor nossos grupos. Atualmente ficou muito fácil fazer teatro. Você chega em um grupo e quase que imediatamente você sobe num palco. Perdeu-se o sagrado do teatro.... banalizamos a magia do palco.... retiramos os ritos da nossa prática e ao contrário das outras profissões, permitimos que qualquer um, pelo tempo que quiser e como quiser, exerça a nossa profissão. Nós atores estamos desrespeitando o teatro e a gente mesmo, dando a qualquer um a oportunidade de exercer a função sublime da representação.
Geraldo Lafayette


espero que todos tenham curtido como eu curti!
até a próxima!

4 comentários:

m. o. disse...

É esse ano fiquei só na vontade...
Mas tenho certeza que foi ótimo como sempre, ainda bem que temos pessoas como o Lafa pra levar iniciativas como essa para a frente, ajudando a manter nossa arte viva =)
Espero que continuem existindo, porque eu mesma, como ele disse, não sei se estarei fazendo teatro amanhã (mas farei o possível para que sim, amanhã e depois e depois e depois...)


Falando nisso, o festival de gv já tá chegando...

cleniomagalhaes.blogspot.com disse...

pois é, a nazza é outra guerreira. acho muito massa essa garra deles. eu quero ser assim quando crescer. bj

Jéssica disse...

experiencias incriveis em Lafa esse ano!
foi muito Bom!
saudades =)

(contando os dias pra cgeha festival de GV)

cleniomagalhaes.blogspot.com disse...

para mim foi inesquecível. bom demais te conhecer mais. um beijo grande!