Camaleão Chameleons 6th

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TEATRO DANÇA ARTES PLÁSTICAS MÚSICA LITERATURA CINEMA

Não fazem mal a ninguém, muito pelo contrário.


Você sabia que Governador Valadares tem tudo isto?
Mas como as pedras preciosas encontram-se incrustadas.
Garimpe-as!
Exija seus direitos!
Garanto que valerá a pena.
Temos a capacidade e o direito de aproximarmo-nos ou afastarmo-nos das idéias que permeiam o ambiente onde vivemos. A perspectiva do imaginário histórico de um povo é suscetível a mudanças como toda e qualquer manifestação fenomenal do planeta, porém imposições ideológicas dominantes podem acarretar o atraso deste processo, levando-nos a admitir errôneas pertinências cunhadas em nosso pensamento pelos formadores de opinião. Faço esta afirmação com base em estudos em ideologia de Slavoj Zizek (1996) para embasar o que pretendo explanar nas próximas linhas a respeito da situação cultural do município de Governador Valadares, cidade onde nasci e onde vivo atualmente.





Zizek aponta, por exemplo, o nosso conceito atual de sustentabilidade fruto da dialética produção-natureza em temor a um possível colapso natural. Essa idéia de catástrofe ecológica global surge no imaginário popular a partir dos anos 70 e vem perdurando até os dias atuais sem que cheguemos a um acordo que proporcione à população mundial a idéia de ciclo vitalício, de equilíbrio do ecossistema, etc. Todo este aparato político-ideológico em torno da questão tem gerado uma série de reflexões que levam o mundo a aceitar o seu fim em vez de propor legalmente estratégias de moderação capitalista e usufruto do que possui no presente.

Este exemplo cabe como uma luva para a situação que pretendo expor. Desde minha adolescência (década de 80) que acompanho discursos de queixas e lamentações por parte de artistas, professores, gestores e líderes políticos a respeito dos nossos recursos artísticos e culturais. Esse pensamento vem sendo passado de geração em geração por estes formadores de opinião ao ponto que hoje toda a população valadarense afirma com certo orgulho na voz que este município não tem nada. Reflito sobre este orgulho a partir de observações de mudanças bruscas de expressão como aumento do volume da voz, sorrisos de canto de boca acompanhado de sobrancelhas enrugadas como um desconsolo aceitável, gestos de mãos que denotam um bastar ou punhos fechados de promessa de luta eterna.

No município existem teatros de praça, teatro italiano, auditórios, biblioteca, coreto, escola de música, escola de dança, festivais, lei de incentivo, artistas, público, campanha de popularização, logo oferta; público e verba (o cinema, o parque de diversão, os shows e as micaretas estão sempre cheios), logo demanda. Muitos desses lugares encontram-se fechados, abandonados, sub-utilizados ou desativados pelo simples fato de não haver uma política cultural estruturada para organizar as leis de oferta e procura. O mercado cultural está cheio de opções. O que existe é o tabu de que estes produtos não valem nada e que se nós os trazemos para nosso entorno teremos que ter muita força para sustentá-lo, uma vez que não são descartáveis. Quero lembrar que estes lugares são comuns, públicos, pagos e sustentados pela verba gerada no município por uma imposição social e política. As escolas, a prefeitura, as empresas, as universidades, os artistas têm como princípio a geração de bens materiais e imateriais para serem consumidos pela população onde estão inseridos e justificarem suas existências. E os bens artísticos estão incluídos.

Este texto é só um pretexto para dar continuidade à minha noção de ação. Esta ação representa minha postura. Eu não estou interessado em internalizar contingências externas mantidas por demandas sociais. Lembro-me com prazer e clareza dos momentos em que estive no Teatro Vila Velha em meio a tijolos, andaimes, ferramentas, madeiras e redes de proteção assistindo a trabalhos de extrema alegria e sensibilidade criados por colegas artistas comprometidos com suas causas, num evento chamado Meia Noite Se Improvisa.
Claro que estou atento aos limites por não pretender assumir uma postura heróico-ideológica, mas dentro deste limite tem que caber a minha presença artístico-criadora. Pretendo me situar nesta paisagem no entre lugar a fim de dinamizar a busca de alternativas. Estou aqui para defender a produção artística, lembrando que a escassez não existirá enquanto houver o desejo. Que a escassez imaginária é um exercício (pró) cura.


Convido os artistas a fazerem vibrar suas idéias de arte. A obra de arte ganha valor a medida que se instala no imaginário popular como algo que lhe proporciona identidade, interação e fé. Se os espaços específicos para o diálogo obra-público estão ancorados num pensamento conservador, o artista tem que ir onde o povo está e vice versa.  É preciso que as pessoas saibam que o nosso único teatro italiano encontra-se FECHADO e nós não temos autonomia para abrí-lo ou seremos presos por invasão da (nossa) privacidade, é preciso que as pessoas saibam que a nossa lei municipal de incentivo à cultura está desativada há quatro anos com mais de vinte projetos aprovados em ponto de captação de recursos, é preciso que as pessoas saibam que o HORTO, espaço cultural com uma concha acústica no bairro Vila Bretas encontra-se abandonado servindo de abrigo para ladrões e usuários de droga, é preciso que as pessoas  saibam que este ano ainda não se falou sobre a CAMPANHA DE POPULARIZAÇÃO DO TEATRO E DA DANÇA, é preciso que as pessoas saibam que nós existimos na cidade e queremos proporcionar momentos de troca de conhecimentos, afetos, experiências, informações através da arte.   Como diz o arteterapeuta Edu O. “ A arte é uma via de mão dupla...se não vira cantoria de banheiro.” (2009). Nós temos a chance de entrar no ciclo das rotas mercantis e ganharmos autonomia através da sustentabilidade. Usemos o espectro da escassez difundido como meio de provar a existência das antíteses através da est(ética), da imagin(ação) da (trans)form(ação). Este é só o começo desta reflexão, um pontapé, um ponto de fuga para articul(ações) futuras mais abrangentes. (clique nas imagens para ampilá-las)







Até a próxima!

Um comentário:

m. o. disse...

Pois é, GV tem uma boa estrutura, só falta mais organização e iniciativa (incentivos tbm são bem-vindos ehehe).