o fato de se ter encontrado no meio do caminho uma forma pela qual a calma da minha solidão pode ser perturbada e a nova vida tornada despretensiosamente plena de anseios vigorosos de amor, tornam questionáveis cada segundo do meu pensar. o estado em que me encontrava antes do encontro era a minha tentativa de manter meu coração protegido do frio da saudade. incansavelmente eu o mantinha aquecido pela força do meu trabalho. não podia nunca entristecer-me pois encotrava-me sempre cansado e com um enorme desejo de estar comigo, em meu apartamento, em meu caos, em meu travesseiro. mas o encontro, no meio do caminho apresentou-me uma humilhante forma de provar a insignificância do meu canto. meu coração iludido, voltou-se contra meu ritmo e pulava neuroticamente dentro do meu tronco a buscar uma maneira de fugir de mim e cair nas mãos do apresentado. engoli seco pois todo meu líquido tornou-se lágrima de piedade do meu peito. meu coração tossia desidratado soprando para minhas veias um pó vermelho que me dava medo. medo de não encontrar pelo meu caminho deserto um copo de água limpa, um travesseiro e um livro de poesias para hidratar o fio que liga meu corpo ao meu espírito. maldito encontro escondido em meu corpo, em meus ossos. sinto frio. não chega a ser uma saudade pois guardei nada de tudo que não vivi daquele maldito encontro.meus planos porém são do tipo de cortar pela raiz a valentia deste encontro a ponto de exibir na volta do caminho deserto a melodia calma e descompassada do meu coração saudoso pelo meu travesseiro. na falta de trabalho pelo caminho, correrei em vão, cantando nossa frenética música predileta, fazendo com que ele bata forte, mais forte do que quando se depara com os resíduos perdidos do encontro ao passar por suas artérias. meu coração perceberá assim que juntos continuaremos nossa jornada sem precisar de encontros que nada nos podem oferecer além de unhas, pêlos e odores que naturalmente são expelidos de sua grossa casca.
imagem e texto: clênio magalhães