fé
A totalidade encontra-se na parte. Pois ao ser intuída já se torna parte das dúvidas. Por isso buscamos a mola propulsora que originou tudo. Os detalhes mais importantes compõem a totalidade. A minha fé encontra-se nos detalhes da totalidade da permanência.
As danças que dançamos
Aos suores deixados nos figurinos, tintas, madeiras de palcos e salas, fogo, vela, gelo, terra, folha e pedras de ruas e calçadas perguntamos:
O que acumula-se em nós?
Coisas que a gente sente e não denuncia.
Coisas que incham no nosso propósito de sermos quem somos.
Dançantes.
O que acumula-se em nós?
Coisas que a gente sente e não denuncia.
Coisas que incham no nosso propósito de sermos quem somos.
Dançantes.
Coisas de dança
A dança está na tensão da dúvida.
As coisas de dança não estão postas para afirmar.
Coisa de dança não é clara, mas ilumina.
Qualquer coisa de dança dita não será tida, se não inspirada e transmitida.
Dançar uma coisa é sujar a coisa intuída.
A dança é suja.
Sua.
Gruda.
Sigamos sujando de dança os corpos inquietos.
As coisas de dança não estão postas para afirmar.
Coisa de dança não é clara, mas ilumina.
Qualquer coisa de dança dita não será tida, se não inspirada e transmitida.
Dançar uma coisa é sujar a coisa intuída.
A dança é suja.
Sua.
Gruda.
Sigamos sujando de dança os corpos inquietos.
A bola da vida
A vida segue seu rumo. No peito um aperto difícil de tirar. Esta sensação que nos persegue já que o mundo parece estar sempre a nos cobrar mais e mais. Aquela bola de neve continua a rolar e a crescer. Ansiamos pelo verão e forçamos nossos pulmões para expandir o peito, respirando forte, mesmo que às vezes seja preciso um cigarro. O tempo nos fortalece e criamos coragem para enfrentar a bola. Ou viramos de costas para o futuro e somos atropelados pela bola, cavamos um buraco no chão, onde nos abaixamos e deixamos a bola definitivamente passar ou driblamos a bola fazendo caminhos curvos e criando obstáculos impedindo sua fluência em nossa direção. Enquanto escolhemos a melhor alternativa, permanecemos na corrida da bola. Trabalhando, estudando, criando, imaginando, acreditando em ideias de vida . O que é a fé senão o prazer da permanência? Se quem ganha somos nós ou a grande bola, pouco importa. Importante mesmo ainda é o movimento e suas mais variadas direções, ritmos e intensidades.
2° Violarte - Festival da Cultura Popular de Minas Novas MG
Festival da Canção, apresentações teatrais, shows, cortejo com grupos de cultura popular da região, feira de artesanato, oficinas e muito mais! 30 e 31 de maio e 1 e 2 de junho. Feriado: quinta, sexta, sábado e domingo.
Esperamos por você para celebrar e resgatar a cultura popular!
Realização Yany Mabel Comunicação e Cultura
Esperamos por você para celebrar e resgatar a cultura popular!
Realização Yany Mabel Comunicação e Cultura
Uma história de som e movimento - I Violarte
Por:José Pinheiro Torres Neto
Por:José Pinheiro Torres Neto
I Violarte aconteceu em Minas Novas em julho de 1985. Nós jovens estudantes sonhadores, pesquisadores, encantados com a sociologia, com a biologia, com a matemática e com a física e um dia podermos lutar pela liberdade de expressão, através do canto, da poesia, da literatura e do teatro. Nesta época, entre 1983-1984, o Brasil lutava por eleições presidenciais diretas, acontecia a luta pela redemocratização do país. Empolgados que éramos e com toda garra, iniciamos o movimento por um festival de cultura na nossa cidade. Havia acontecido o IV Festivale em 1983. que trouxe a Minas Novas, grandes poetas, cantadores, intelectuais e pensadores em prol da cultura do Vale do Jequitinhonha. Uma grande manifestação da cultura popular, surgiram nesse festivale, Saulo Laranjeira, Dércio Marques, Célia Mara e uma grande projeção para os músicos, poetas e artistas de Minas Novas, destaque para Arlindo Maciel e Arnô Maciel.
Aconteceu também em 1985 o I Rock'in Rio. Iamos nós aos trancos e barrancos construindo o nosso festival de cultura.
Minas Novas respirava cultura, tinha a mesa de poesia, grandes músicos participantes de outros festivais se destacavam, Aquiles Maciel, Valmir Cunha, o Regional, grupo musical respeitadíssimo no Vale do Jequitinhonha, integrado por Mestre Dú, Mestre Álvaro Freire, Mestre Tristão Pinheiro, Mestre Heraldo, na percursão Vicentinho e no vocal o incomparável Arnô Maciel.
Minas Novas, ainda tinha o Centro de Cultura local, que trabalhou arduamente em parceria com Centro de Cultura do Vale Jequitinhonha – CCVJ e o Jornal Geraes na organização do IV Festivale. Além de ponto de encontro dos jovens daquela época, o Centro de Cultura tinha um grande objetivo na promoção e preservação da cultura, realizava importantes reuniões e eventos na cidade como: gincanas culturais, saraus de poesia, contribuia na realização das festas religiosas, montava espetáculos teatrais, shows e é claro trabalhava na preservação do folclore, ponto forte de Minas Novas, etc.
No esporte, Minas Novas era imbatível com três timaços, O Estrela Vermelha Esporte Clube, o Vasco Minasnovense de Futebol, no qual tive o prazer de jogar, e o tradicional Sementeira Futebol Clube. Nascia o Atlantic Futebol Clube, time fundado pelo saudoso Lau Gomes. Temidos na região esses times faziam sacudir o antigo estádio “Pequizão” nome batizado pelo narrador César Mendes.
O outro ponto de encontro era o Bar Quintal, criado por Felipe Mota, lugar onde aconteciam agradáveis promoções culturais, lá aconteciam shows belíssimos, Rubinho do Vale, Paulinho Pedra Azul, o próprio Grupo Regional e músicos da terra. Lembro-me do memorável show de Melão & Lery, lançamento do disco “Notas de Viagem”, primeiros artistas a retratarem a cultura do Jequitinhonha em disco, marcado pela canção “Jequitinhonha” e do lançamento do livro “Antologia Poética” de autoria Tadeu Martins, Jansen Rego, Wesley Pioest e Gonzaga Medeiros. A cultura de Minas Novas efervescia.
Na região já acontecia em Turmalina o FESTUR, fundado por Paulo Pagani, na época funcionário da Minas Caixa em Turmalina e posteriormente, capitaniado pelo militante da cultura, o amigo Hugo Jansen, e em Capelinha crescia o Encontro do Capelinhense Ausente.
Ganhava projeção estadual e até nacional artistas que já haviam gravado seus discos, Paulinho Pedra Azul com seu romantismo no “Jardim da Fantasia”, Rubinho do Vale lançava o “Tropeiro de Cantigas”, surgia para o cenário musical Tadeu Franco com o disco “Cativante” que explodia com a canção “Nós Dois”.
Residiam na cidade, muitos profissionais que foram trabalhar em projetos governamentais, ONGs e ou na Minas Caixa e Banco do Brasil e artesanato. Esse pessoal trouxe muita energia para o nosso grupo, Ricardo Ribeiro, Cuca, Elaine, Ângela, Bené e Ana Lourdes, Itamar Hippie, dentre outros que se juntaram a nós, Zé Pinheiro, Jason, Domingos Teodolino, Jesse Mota, Zé Maria Louro, Florinha, Zé Henrique, Ângela Barbosa, Dainha, Jaqueline Mota, Flávia Mota, Deyse, Carlão, Myriam, Felipe Mota, Dóris, Gão, Dalton, Vânia, parte do grupo residia em Minas Novas e outra parte em BH. Lembro-me da grande contribuição nos trabalhos do grupo do saudoso Alceu Machado, apaixonadíssimo com Minas Novas.
A idéia do festival cresceu e ganhou corpo, era irreversível, partimos para a luta.
Reportando-me ainda ao grupo participativo do Centro Cultural, me remeto à Mesa de Poesias, que tinha Irene Barbosa Chagas, uma exímia escritora e poetisa, como é hoje uma exímia educadora. Havia também o movimento do grupo de teatro liderado por Adão Domingos, que botava prá quebrar com a juventude que gostava da arte cênica. Já o show de pirotecnia ficava por conta da arte e criatividade de Elias Piolho, que trabalhou muito conosco na organização do festival.
Iniciada a luta para realização do festival, dentre muitas dificuldades encontradas a maior delas era a financeira, pois não tínhamos um centavo no caixa. Botamos o pé na estrada atrás de verbas e patrocínios. Conseguimos com a Prefeitura bancar os shows, dentre eles uma estrela da MPB, e os demais com artistas mineiros e minasnovenses. O palco, de madeira, conseguimos um grande patrocínio na época, Acesita Energética, que também nos ajudou muito doando madeiras para montagem das barraquinhas que contornavam o local dos shows (Estádio Pedro Anísio Maia). Essas barraquinhas foram alugadas por muitos comerciantes da cidade que levaram seus bares e lanchonetes para o contorno do estádio, bebidas, comidas típicas, algumas com artesanatos, etc, com isto conseguimos levantar algum dinheiro para cobrir custos de materiais, transportes, pagamento de operários, pequenos cachês, comida e estadia de grupos folclóricos e outros serviços. Conseguimos também patrocínio para as camisetas e alguma verba com a Secretaria de Estado da Cultura. Enfim a estrutura do festival foi montada com muito trabalho do Grupo. As equipes de trabalho foram divididas, criamos equipe de Comunicação, de Transportes, de Recepção e outras ficando a coordenação a cargo de Zé Pinheiro e Elaine. Esqueci-me de relatar o nome dado ao festival. Inicialmente foram tantas sugestões que ficamos divididos, pois tinha muitos nomes criativos. Decidimos ir para o voto popular, então promovemos uma eleição que, se não me engano, haviam três urnas. Lembro-me dos locais de votação. Uma urna ficava no “Bar Cantinho da Amizade”, uma outra no “Bar Quintal” e outra no “Bar Arca de Noé”. Os nomes sugeridos lembro-me de FESCMIN – Festival da Cultura Minasnovense, FESCAMN, dentre outros nomes começados por FES. O vencedor foi o VIOLARTE, nome sugerido pelo nosso amigo Sidney Magela Silva (Gão). Significado da cultura entre Viola e Arte e sua pluralidade, sua extensão enquanto arte, sua ousadia e sua manifestação, enfim um nome que adequa e representa o pensamento da cultura popular, Viola e Arte.
Com isto confeccionamos cartazes, divulgamos o festival na mídia, de boca em boca, no Vale do Jequitinhonha, enviamos cartazes por carros que chegavam e saíam da cidade, pelas linhas de ônibus, em Belo Horizonte, nos bares de referência cultural, nos Colégios e Universidades, etc.
Minas Novas nessa época, 1985, tinha árvores no meio das avenidas, as andorinhas enfeitavam os fios de luz e postes na primavera, tinha serenata que varava a madrugada, a Banda de Música Euterpe Conceição era composta de adolescentes e muitos viraram músicos profissionais, tinha bailes aos fins de semana embalados com as bandas tradicionais, MSom-7 e ou Corda de Aço. O Forró rolava solto no Clube Popular com Mozart, Palmar e grupo, como também no Tião de Contente. Já as serestas por muitos músicos conhecidos na região, como Canutinho, Sargento Wagner, Heraldo, Du, Álvaro Freire, Tristão Pinheiro, Dásio Batista, Arnô Maciel, Dim Evangelista, Evandro (Duí), Stela Leite, Diva, Gildete, Gato, Dr. Geraldo, Aquiles Maciel, Walmir Cunha e muitos outros seresteiros famosos.
Antes do Festivale de 1983, havia acontecido em Minas Novas o Festival de 1980, ano da comemoração dos 250 anos de emancipação política do município, ocasião em que então presidente da República João Batista Figueiredo visitara Minas Novas. Esse festival trouxe grandes artistas que se tornaram conhecidos na cidade dentre eles Rubinho do Vale, o vencedor do Festival. Trouxe também muitos concorrentes, que se tornaram amigos da cidade o principal deles meu amigo Nacib Rachid, que é tido como filho adotivo de Minas Novas. Tomou cachaça, nadou no Fanado e voltou na enchente de 1985.
O 1° Violarte foi realizado na cidade de Minas Novas em 1985, depois de 27 anos a cidade vai receber a segunda edição e a partir daí, todo ano!
Viva a cultura Popular!
A secretaria do 2° Violarte está situada no Sobradão, 2° andar. Venha fazer sua inscrição para as oficinas Teatro de rua, Expressão corporal, Construção de Tambores, Brinquedos e brincadeiras, Construção de acessórios com resíduos têxteis, e Dança Afro. Vem vê!!!
Arquivos fotográficos - Eduardo Borges e José Pinheiro Torres Neto
2° Violarte - Realização Yany Mabel Comunicação e Cultura
A GENTE SE ENCONTRA LÁ!
Até a próxima
onirismo
Voltava para
casa quando percebi que um cachorro me seguia. Parei olhei para aquela criatura
esquálida, suja, temerosa e assustada. Seus olhos me fitavam tão profundamente
que parecia trazer algo a mais, além de piedade. Continuei andando e o cachorro
continuava a me seguir a distância. No caminho refleti sobre minha
impossibilidade de fazer algo direto em seu benefício mais urgente. Eu não
teria estômago para lavá-lo com minhas próprias mãos e nem dinheiro para
levá-lo a um pet shop ou veterinário. Então me lembrei de uma amiga que é
fanática por animais e passei em sua casa para que ela visse o bebê que me
seguia. Foi amor à primeira vista. Quando Eli minha amiga viu aquele ser, já se
abaixou, chamou com uma voz branda e o tomou pelas mãos. “É uma cadelinha!” Exclamou.
Imediatamente a colocou no carro, levou a cadelinha Bebê, que acabou sendo
batizada assim, para todo o tratamento de emergência que ela precisava. O tempo
passou e a Bebê cresceu. Era uma cadela dócil, brincalhona, dourada como um
capim seco, de pelo baixo, de rabo longo, de orelhas caídas e olhar
melancólico. Típico vira-lata.
Comigo a Bebê
sempre foi arredia. Eu pensava que era pelo fato de eu não tê-la assumido
quando ela me escolheu. Quando estávamos a sós, a Bebê se transformava numa
mulher magra, alta, surda e muda, apática e me olhava com olhos inexplicáveis.
Era uma mistura de compaixão, paixão, preocupação e adeus.
Uma vez Eli me
convidou para uma viagem com sua equipe de trabalho. Iríamos todos para uma
praia no litoral leste. Já com tudo pronto para a viagem, Eli me chamou e disse
que esta viagem era uma despedida. Sua casa no litoral sul, que há anos estava
em construção, ficou pronta e ela pretendia deixar o interior. E me pediu
segredo, pois ainda não achava forças para contar aos amigos.
Saí com aquela
notícia na cabeça para o lado de fora da casa, onde as crianças aguardavam
ansiosas pelo ônibus de viagem. Deitada na calçada, preguiçosa, estava a Bebê.
Coloquei-a no colo e a escolhi para quebrar meu silêncio e dividir com ela a
saudade que já sentia. Mas ela não me compreendia. Num momento de distração dos
passantes, se transformou em mulher e começou a gesticular desesperada. Em meio
a gestos apressados e sons incompreensíveis ela tentava me dizer que não era
para eu ficar muito grudado com ela. E eu disse que não se preocupasse, pois em
breve estaríamos a mais de quinhentos quilômetros de distância. De vez em
quando aparecia alguém e a Bebê voltava à forma de cadela, mas sempre que nos
percebia não notados, tornava-se humana e desesperadamente tentava me dizer
algo. Então ela fez dois círculos com as pontas dos seus dedos e os cravou em
meus olhos dizendo em palavras esforçadamente quase compreensíveis que eu não
podia ficar perto de ninguém, de nada grandiosamente vivo. Precisava manter uma
distância de pelo menos cem metros das pessoas, animais e árvores, pois eu
possuía uma anomalia no espírito que tornava minhas forças escorregadias para
os corpos alheios. Quanto mais perto eu me tornasse de pessoas, animais e
árvores, mais meu corpo definharia, e mais meus olhos afundariam para dentro da
face. Então chegou Eli, dizendo que o ônibus já se aproximava e que pegássemos
nossas bagagens. A Bebê correu para brincar com as crianças.
Acordei.
Até a próxima!
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