Enfim terminei ASSIM FALOU ZARATUSTRA, livrozinho difícil, para não dizer chato, pois reconheço sua importância. O que me chama a atenção em Nietzsche, mais do que sua delirante razão, é o seu amor pela dança. Sou um buscador incansável da razão que nos impulsiona a dançar, e ler o Nietzsche para descobrir o que de extraordinário existe para ele nesta modalidade artística que o impele a citações incansáveis sobre o corpo e o movimento poético, torna-se mais que necessário. Sinto-me orgulhoso por ter vencido uma literatura tão complexa, sinto-me consciente de não ter apreendido 20% dos seus devaneios, por uma questão de juízo (rs) e sinto me ainda mais curioso em busca dos fenômenos ligados a arte de se mover.
Selecionei algumas citações que refletem um pouco minhas aproximações com as profecias endeusadas da sua personagem.
"...o bom e o são egoísmo que brota da sua alma poderosa a que corresponde o corpo elevado, belo, vitorioso e reconfortante, em redor do qual tudo se troca em espelho: o corpo flexível e persuasivo, o dançarino cujo símbolo e expressão é a alma contente de si mesma."
"Que a minha doutrina é esta: o que quer voar um dia, deve desde logo aprender a ter-se de pé, a andar, a correr, a saltar, a trepar e a bailar; não se aprende a voar logo à primeira!"
"O homem há de ser uma ponte, e não um fim: satisfeito do seu meio-dia e da sua tarde."
"Pois não é necessário haver coisas sobre as quais se possa dançar e passear dançando?"
"Eis como quero o homem e a mulher: um apto para a guerra, a outra apta para dar a luz; mas os dois aptos para dançar com cabeças e pernas. E que todo o dia em que se não haja dançando, pelo menos uma vez, seja para nós perdido! E toda a verdade que não traga ao menos um riso nos pareça verdade falsa."
"Se a minha virtude é virtude de bailarino, se muitas vezes pulei entre arroubamentos de ouro e de esmeralda; se a minha maldade é uma maldade risonha que se acha em seu centro entre ramadas de rosas e sebes de açucenas, porque no riso se reúne tudo o que é mau, mas santificado e absolvido pela sua própria beatitude; e se o meu alfa e ômega é tornar leve tudo quanto é pesado, todo o corpo dançarino, todo o espírito ave: e na verdade, assim é o meu alfa e ômega."
"Mas vale mais estar doido de alegria do que de tristeza; vale mais dançar pesadamente do que andar claudicando. Aprendei pois, comigo a sabedoria, até a pior das coisas tem dois reversos, até a pior das coisas tem pernas para bailar; aprendei, pois, vós, homens superiores, a afirmar-vos sobre boas pernas."
"Louvado seja o inimigo de todas as folhas murchas; esse espírito de tempestade, esse espírito selvagem, bom e livre que dança nos atoleiros como no meio de prados!"
"Homens superiores, o pior que tendes é não haver aprendido a dançar como é preciso dançar; a dançar por cima das vossas cabeças!"
"Elevai, elevai cada vez mais os vossos corações, bons bailarinos! E não esqueçais também o belo riso!"
"Fosse isso verdade ou não, pouco importa, e se o burro não bailou essa noite, sucederam, contudo, coisas maiores e mais singulares do que a de um burro bailar. Em suma, como diz o provérbio de Zaratustra: 'Que importa!' "
"A lua é fresca, o vento emudece. Ai! Ai! Já voastes a bastante altura? Dançaste? Mas uma perna não é uma asa. Bons dançarinos, agora passou a alegria toda , o vinho converteu-se em fezes, as sepulturas balbuciam."
"Se eu quisesse sacudir esta árvore com minhas mãos não poderia, mas o vento que não vemos pode açoitá-la e dobrá-la como lhe aprazer. Também a nós mãos invisíveis nos açoitam e dobram rudemente."
"Vós todos que amais o trabalho furioso e tudo o que é rápido, novo, singular, suportai-vos mal a vós mesmos: a vossa atividade é fuga e desejo de vos esquecerdes de vós mesmos."
"Seja vosso trabalho uma luta! Seja vossa paz uma vitória."
"Todo isolamento é um erro: assim fala o rebanho."
"A força de tronos e de fogos de artifício celestes, é preciso falar aos sentidos frouxos e adormecidos. A voz da beleza, porém, fala baixo: só se insinua nas almas mais despertas."
"E uma vez quis bailar como nunca bailara, quis bailar além de todos os céus."
"Certamente não encontrou verdade aquele que falava da 'vontade de existir', não há tal vontade. Porque o que não existe não pode querer, mas como poderia o que existe ainda desejar a existência?!"
"Com a face e os membros pintados de mil maneiras, assim me assombrastes, homens atuais. E com mil espelhos à vossa roda, que adulavam e repetiam o efeito das vossas cores. Certo, não podíeis usar melhores máscaras do que a vossa própria cara, homens atuais. Quem vos poderia reconhecer?"
"Pobre de mim se me não pudesse rir do vosso assombro e se tivesse de tragar tudo quanto há de repugnante em vossas escudelas."
Essas e outras passagens marcaram minha leitura. Além de compartilhar com vocês leitores, as citações servir-me-ão de base para futuras pesquisas. Espero que sejam úteis para outros como foram e estão sendo para mim. Até a próxima!