Entrevista com Felipe Messias

A nudez dos museus.
O corpo sagrado.
O corpo puro.
A mente.
Segredo.
Vergonha.
Índio.
África.
Selvagem.
Descoberto.

Posar para Felipe antes da empatia com seu trabalho, vem da minha admiração por Auguste Rodin, Leonardo Da Vinci, Marina Abramovic, Luíz de Abreu, Spencer Tunick, dentre outros. 



Devo confessar que embora esta seja a segunda vez que fico nu na frente da câmera e tenha já dançado nu, ainda há aquele frio na espinha, o suor frio nas extremidades e uma indagação: o que estou fazendo aqui? (rs) Mas depois de alguns cliques, já fui me entregando e me sentindo a vontade diante do Felipe que além de se empenhar no seu trabalho em busca de qualidade e profissionalismo, procura nos deixar bem a vontade. Na verdade, posar para Felipe, foi um encontro comigo mesmo, com meu corpo, com meu tempo, com meus limites e mudanças.
E serão dele as próximas palavras deste post.

Ei Felipe. Como vai?

Vou bem. Inquieto, mas bem. O importante é não acomodar, e é o que tento não fazer.

Obrigado por aceitar meu convite para o quadro de entrevistas do blog. Espero que muitos leitores desfrutem de suas palavras e imagens.

Vamos lá? 

Agora sou eu quem vai tirar sua roupa rs.

Você nasceu em Belo Horizonte? Fale um pouco desta cidade.

Nasci em BH sim. Eu gosto muito da cidade por vários motivos: acho bonita, agitada, boêmia. Por outro lado fico muito chateado porque sinto que aqui ainda reina um pensamento atrasado, de certa forma. É triste, mas somos uma roça grande. Ainda somos dominados pela "Tradicional Família Mineira". A sociedade aqui ainda é muito conservadora e acredito que temos pouco espaço para a arte marginal. As pessoas não estão abertas para a inovação, para o que provoca. Ninguém quer ser incomodado, transformado. Aqui todos querem o que já conhecem, o que é confortável. 

Qual a sua formação?

Sou formado em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda. Gosto da minha formação porque a Comunicação Social tem um lado que eu desconhecia totalmente, uma teoria rica, contestadora. E isso é o que mais me deixa apaixonado por essa carreira que escolhi.


Você adora fotografar corpo humano e faz isso muito bem. De onde vem essa “tara”?
Não sei, sinceramente. Desde jovem, ainda na adolescência. Brincava de fotografar um amigo. Ai a coisa foi ficando séria, foi me ganhando. Na faculdade conheci grandes fotógrafos que trabalhavam com essa temática das mais diversas formas, fui me apaixonando. Quando terminei a faculdade fiz meu primeiro nu profissionalmente. E fui fisgado.

Você gosta de fotografar outros alvos além do corpo?
Sim. Toda forma de evento cultural me fascina: teatro, shows. Uma amiga sempre diz que esse é meu forte. E pode não parecer, mas tenho uma paixão pela natureza. Sempre brinco que meu sonho é ser fotógrafo da National Geographic - de quebra dá pra unir as duas paixões: retratos das pessoas e da natureza.

O que você pretende com a fotografia?
Acho que essa é a pergunta mais difícil, mas a resposta está na ponta da língua. Acho que minha intenção é emocionar as pessoas. Já vi algumas fotos que me deixaram em prantos. Vou ficar feliz quando fizer isso um dia, conseguir tocar as pessoas da mesma forma que fui tocado por essas fotos. Quero que as pessoas parem na frente das fotos e reflitam. E percebam que ali tem muito mais que uma imagem.

De onde vem as suas inspirações?
De tudo que me incomoda e me emociona. Me inspiro naquilo que não cabe mais dentro de mim e precisa ser externalizado. 


Você já chegou com toda a ideia na cabeça. São sempre assim, "pré-meditados", seus processos criativos?

Na maioria das vezes. É assim que gosto de trabalhar, dá mais tesão e faz a coisa fluir melhor, sabe? Dá pra fazer um trabalho certo, bonito... Mas me envolvo muito mais quando tem esse tempo de concepção, de amadurecimento das ideias. Não é que seja uma coisa engessada, com um roteiro bem amarrado. Mas gosto de ter claro qual o conceito que quero trabalhar para que o ensaio fique mais redondo. Até porque senão corro o risco da nudez ficar banal e desnecessária. O lado ruim é que me envolvo muito, sofro. Isso vem muito desse incômodo que me faz querer fotografar. Tem umas hora que tem que colocar pra fora, senão fica insuportável. Mas já fotografei também várias vezes só sentindo a emoção do momento e isso me rendeu belíssimos trabalhos. 


Quais são seus artistas prediletos?
Nossa. São vários. Na música tem a Björk - minhas musa inspiradora, sempre -, Radiohead, Elza Soares. Na fotografia tem a Diane Arbus, o LaChapelle, Sebastião Salgado... Ah, e tem o Larry Clarck e o Bruce LaBruce, que acho fantásticos com a câmera de vídeo ou a câmera fotográfica. Nas artes plásticas gosto muito da Frida, do Caravaggio, do Salvador Dali. Nossa, é muita gente. 

Que tipo de recado você deixaria para os leitores interessados em fazer carreira em fotografia?
Nossa, eu nem sei se tenho uma carreira pra dar conselho. Mas o que eu tento fazer é me superar sempre, fazer o melhor e não desistir. Nunca. 

Mais uma vez obrigado, espero que este seja um passo para uma boa parceria!
Abaixo quatro fotos do ensaio. Quem quiser curtir e saber mais sobre o trabalho do Felipe Messias clique AQUI!







"A beleza de um corpo nu só a sentem as raças vestidas. O pudor vale sobretudo para a sensibilidade como o obstáculo para a energia" (Fernando Pessoa)

Até a próxima!